27 de março de 2011

Concurso de Contos de Nova Ether

Intervenção


Estou tão nervosa, pois era a primeira vez que tive que sair da minha história para interferir em outra.
Ela, a semideusa que me criou e me escolheu.
Mas estou muito contente, não acreditava que fosse a escolhida, pois nem sou a sua preferida...


            Ah, desculpe, deixe-me apresentar.
            Meu nome é Mari, fui mandada para Nova Éther, pois fui escolhida entre muitos, para uma missão muito especial.
            Assim como esse mundo, também fui criada da imaginação de semideuses, na verdade, de uma Semideusa.
            Em um dos mares, eu voo rápido, pois  estou com pressa.
            O sol está para se por e preciso chegar logo.
            Estou sobrevoando o mais alto e o mais rápido que posso, isto é, estou a ponto de ultrapassar a velocidade do som. Sem sinais, por um momento, eu acreditei que não fosse chegar a tempo.
            Fazia uma semana que o Jolly Rogers havia sido ganhado um novo capitão, que mudou o seu destino, que será sombrio e aterrador.
            Porém, era esse o caminho que o seu capitão tinha que seguir.
            Então, eis que encontro o tal navio, de longe, nem parece que este é comandado por piratas.
            Eu desço aos poucos, e o navio que parecia um pontinho no meio do oceano, vai ficando cada vez maior.
            E maior...
            E maior...

            Então, passa a começar a fazer sentido o porquê Dela ter me escolhido.
            Os outros eram pesados, e certamente, pousariam na água, enquanto eu sou mais leve e mais graciosa.
            Enquanto desço, vejo olhos de jovens e crianças me vendo, pois, modéstia a parte, eu sou fantástica.
            E, afinal, sou uma dragonesa em Nova Éter, mas fui remoldada no éter para vir a este mundo.
            Sou do tipo Wyvern, isto é, uma dragonesa que só possui as patas inferiores (equivalente as pernas) e as asas, sou enorme, mas no meu mundo, minha espécie é a menor, porém, a mais rápida. Minhas escamas são verde-esmeralda, meus olhos são vermelhos como sangue, ainda sou jovem, só cem anos, de acordo com Ela.
            Enfim, eu plano graciosamente ao lado do navio, surgem dezenas de garotos junto com alguns homens.
            Todos eles me olhavam, assustados, alguns, prontos para me atacar, enquanto outros estavam em dúvida se estavam diante de um ser de Aramis ou Mantaquim.
            E vi que estava na hora de assumir minha forma humana.
            Eu me coloco a poucos metros do piso do navio, muitos se aterrorizam com a sombra que eu faço.
            Rapidamente, meu corpo reptiliano se envolve em uma luz branca, no lugar dele, surge um belo corpo humano e feminino.
            Na minha forma humana, meus cabelos são lisos e castanhos com um leve brilho dourado, que vão até a cintura, a pele alva e hidratada, meus olhos cor-de-mel, meu corpo é magro, mas cheio de curvas, e estou usando um deslumbrante vestido verde escuro, desses que só são vistos em princesas e fadas, meu rosto é lindo, e espero não causar ciúmes na moça ruiva, sem falar também que eu já sou comprometida no meu mundo.
            Quando estava totalmente transformada, vi meninos se ajoelharem diante de mim. Pois estava envolta em uma luz discreta.
            – A senhora é uma semideusa? – perguntou um menino, que parece ter uns catorze anos, enquanto os outros pareciam ter certeza de que eu era.
            – Não meu querido – respondi gentilmente – sou apenas uma enviada de uma.
            O menino sorriu para mim, e eu sorri de volta,
            – Procuro por Liriel Galbbiani – eu falei – ela está neste navio?     
            Todos os tripulantes olham para a direção oposta de onde eu estava, e deles, surge uma moça de cabelos avermelhados, bastante intimidada, com roupas masculinas adaptadas para uma jovem.
            – Em que posso ser útil? – perguntou.
            – Não se preocupe, não venho fazer mal algum, pelo contrário, vou ajudá-la – disse com sinceridade.
            – A senhorita diz ser uma enviada de uma semideusa, por acaso é uma fada?
            – Sou apenas uma humilde representante dela, e se fosse uma fada, apenas você e o capitão deste navio conseguiriam me ver, aliás, onde ele está?
            – Estou aqui – disse uma voz masculina grave e firme, típica de um capitão pirata, que surgiu por trás de mim. Era um rapaz negro, forte e bastante seguro de si, mas que estava nervoso, diante de mim.
            – Capitão Galford – disse, com naturalidade – não sabe como estou honrada em conhecê-lo.
O rapaz pareceu se admirar com a forma com a qual eu me referi a ele.
Fizemos as apresentações, mas eu senti que ele ainda não estava convencido do que eu era.
Claro  que eu não o culpo, afinal, quem não estaria assustado ao se deparar com um dragão que se transforma numa bela mulher?
Alguns minutos depois, eu tava perto da proa do navio, sentada em uma cadeira, Snail Galford, Liriel Galbbiani, os tripulantes voltaram a seus afazeres, mas prestavam atenção a nossa conversa.
            O Capitão soube da minha chegada ao navio, ele não viu, mas Oliver Twist, seu primeiro imediato, me viu e  havia convencido-o do meu poder.
            Ainda mais quando eu tranfigurei as cadeiras.
            Após me apresentar formalmente, eles manifestaram suas dúvidas.
            – Uma semideusa que acompanhou a nossa história? – perguntou Liriel, que estava a vontade com a minha presença.
            – Sim, alem dela, muitos semideuses conhecem Nova Éther e seus habitantes, mas Ela tem uma verdadeira adoração por vocês dois.
            – Como assim? – perguntou o capitão – adoração por nós?
-        Pois ela conheceu a história de vocês, desde quando o capitão era um simples recruta do Jamil-coração-de-Crocodilo e Liriel era uma artista de circo, ela acompanhou a trajetória de vocês dois desde a primeira vez que se encontraram.
            Só foi necessário dizer o nome dele para o filho do falecido Capitão Gancho aparecer, amparado por quatro jovens que o carregava, junto de Will, outro pirata que também fazia parte da tripulação, ambos eram escravos do Capitão Galford.
            – Então, essa sua criadora gosta de piratas, se ela gostasse mesmo, teria me poupado desse infortúnio.
            Ela alertou-me sobre isso, por isso, já vim preparada, eu torci o nariz quando olhei para o Jamil, todo acabado.
            – Escute aqui, o Jamil-sem-perna, não foi Ela que criou este mundo, nenhum dos seus habitantes e muito menos você, mas se tivesse sido, Ela teria feito tudo que o seu Criador fez com você, mas não teria cortado apenas a perna e arrancado o olho, pro serviço ficar completo, teria cortado a sua língua!
            Tenho certeza que Jamil teria avançado em mim, se ele pudesse, mas se isso tivesse acontecido, teria voltado a minha forma dracônica, só para cuspir fogo na cara dele.
            Ele voltou para o seu canto e começou a conversar com o Will.
            Continuamos a conversar, eu falei sobre coisas que somente um semideus teria o poder de saber, como a preparação da Liriel, o recrutamento dos garotos órfãos, a tomada do Jolly Rogers e até sobre a corda fria, o que deixou Snail convencido de quem eu era.
           
            O sol estava começando se por, embora quisesse ficar, eu teria que ir.
            Mas era bonito ver os dois, eles estavam afastados em questão de centímetros, e sem dúvida, Ela estava certa quando disse para mim que era um dos casais mais bonitos, pois eram diferentes na aparência, mas iguais no sentimento, assim como outro casal que ela me falou, formado por um lutador tatuado de pele amarela com uma loira com cara de princesa, mas era capitã de uma guarda real de um reino distante.
            Só que a capitã e o lutador já estão juntos e felizes.
            Liriel e Snail, não.
           
            Eu olhei mais uma vez para o horizonte, já estava na hora.
            Levantei-me e disse o que tinha que dizer, senti que Ela já se manifestava em mim.
            – Antes de ir, gostaria de saber, qual o problema de vocês dois? – perguntei, como se quisesse dar uma bronca, mas apesar de ser minha voz, eu senti que não era eu quem estava falando.
            – Que problema? – perguntou ambos em uníssono.
            – Poxa, eu conheço muitos casais, que estão juntos e felizes, vocês também podem ser, mas parece que falta algo.
            Os dois olham para mim, não estavam entendendo mesmo, mas eu esperava por isso, a J também.
            – Liriel – eu disse – me diga uma coisa, o que você está esperando?
            Ela olhou para mim com aqueles olhos verdes enormes.
            – Esperando o quê?
            – Para falar diretamente do que você sente.
            -- E-Eu não estou entendendo.
            – Você passou um tempão jogando indiretas para cima do Galford e sabe muito bem que é você que tem que tomar a iniciativa!
            – Não sei do que você está falando Mari.
-        Há algum tempo atrás, quando você cortou o cabelo, ele reparou e te elogiou.
            Os dois me encararam em silêncio, de boca aberta.
            – Querida, você não faz idéia de como isso é raro, um homem reparar no novo corte de cabelo de uma mulher, ainda mais um homem feito o capitão.
            Snail quis protestar, tava na cara que ele não tinha argumentos, o universo feminino para ele, é tão desconhecido quanto o futuro que escolheu para si.
            Liriel fitou Snail com o rabo-do-olho, e sorriu de leve, ele olhou para mim, chegou a abrir a boca para falar algo, mas eu o fitei, antes que pudesse falar, para que ele veja que não está diante de uma moça qualquer.
            Mas desta vez, eu não estou falando de mim.
            – Eu nem me lembrava disso – disse Liriel, com as bochechas vermelhas.
            – Não importa, vem cá – eu chamei.
            Eu me levantei, ela veio até mim, e nos juntamos como duas mulheres fazem ao falar de um homem.
            – Gosta dele, não é? – murmurei.
            Ela ficou vermelhinha, e o capitão fitou-a, com curiosidade.
            – Bem, às vezes, ele me deixa nervosa, outras, assustada, tem vezes que tenho vontade de enforcá-lo mas, ta difícil disfarçar, ele não faz nada – disse Liriel num tom que beirava a angústia – mas eu gosto dele.
            – Ele não vai tomar a iniciativa Liriel, você sabe disso.
            – Galbbiani, o que está havendo? – perguntou o capitão, a ruiva se assustou.
            Ela deu de ombros, olhou para ele mais uma vez e voltou-se para mim.
            – A Liriel tem uma coisa para te falar.
            Ela me olhou, desesperada, enquanto Snail se aproximava.
            Eu dei três passos para trás e mantive uma distancia estratégica e os dois estavam frente a frente.
            A ruiva tentou dizer alguma coisa, mas não saiu nada além de gemidos.  Liriel não conseguiu dizer nada, mas nesse momento único, palavras não eram necessárias.
            Antes que ele pudesse reagir, ela o abraçou, acabando com qualquer defesa dele, e finalmente o beijou na boca.
            Mas não foi um beijo qualquer, pois eu vi que o capitão teve um pouco de resistência, mas acabou cedendo, e, pensando bem, não me lembro Dela  ter me falado sobre alguma vez em que ele beijou alguém.
            Nossa, só de imaginar que esse deve ser o primeiro beijo dele, já fiquei emocionada.       
            O sol já se pôs, as primeiras estrelas começaram a surgir.
            E uma delas, já brilhava mais que as outras, era uma estrela especial, que só brilha quando momentos como esse acontecem.
            A Romântica Estrela de Blake.
            Nem sei por quanto tempo eu fiquei olhando para aquela estrela, mas pensava no meu parceiro.
            Após o longo beijo, eles se voltaram para mim, Snail Galford sorria largamente, Liriel, mais ainda. Eles estavam de mãos dadas quando eu me aproximei.
           
            E através de mim, Ela disse.

           
            Snail, uma vez, o Criador disse, algumas histórias podem mudar o mundo, a sua história mudou o meu, e para melhor”
            Pois você não é um príncipe encantado que luta Boxe, nem um rei, muito menos um nobre metido a besta.
            Ele se surpreendeu com o que foi dito e sorriu.
            É um garoto de rua que lutou para chegar onde chegou, que, mesmo diante de todos os riscos, seguiu seu caminho, com coragem, sem se afastar do que realmente acredita, e principalmente sem abrir mão do que ama.           
            Tornou-se alguém de quem eu espero tudo, mas que sempre me surpreende, é um sobrenatural, o Simbad.
           
            E Liriel, é a garota que muitas semideusas gostariam de ser, linda, corajosa, faz acrobacias difíceis como quem faz um simples exercício físico, que consegue mexer objetos com a mente e mesmo com suas inseguranças, seus medos, também seguiu em frente.
            Mas poxa vida, de todos  casais que eu acompanhei e vi se formarem vocês foram os únicos que mal se tocaram, e tava na cara que vocês precisavam de um empurrão. Por isso, eu mandei a Mári, pois ela é especialista em unir casais.
            Os dois me olharam como se eu fosse uma obra de arte.
            Espero que não briguem tanto e, fiquem juntos, e saibam que eu estarei olhando por vocês, e se for preciso, tenho um exército de dragonesas e dragões para ajudá-los.
                       
                        E sonhem sempre, quem sabe um dia, nos encontramos pessoalmente.
           
           
Os dois ficaram emocionados, me agradeceram e nos despedimos.
            Eu me afastei, saltei da ponta da proa e voltei a ser a dragonesa, levantei vôo até o alto.
            Finalmente entendi que se fosse outra criação Dela, não teria sido tão perfeito.   
            Afinal, eu tenho experiência juntar casais indecisos.

            Voei alto, mas permaneci planando nos céus de Nova Ether por toda a noite, e voltei para o meu mundo, depois do amanhecer.

2 comentários:

  1. já tou seguindo agora segue meu tb
    http://sonsnaturais.blogspot.com/
    bj obg

    ResponderExcluir
  2. Que lindo!!!
    Amei o conto, sempre torci pra Liriel e Sanail ficarem juntos!!
    Gostei bastante da descrição da Mari como dragonesa, me lembrou a Saphira de Eragon...
    ^^

    ResponderExcluir